Os
anjos assumem muitas formas
Renato Rhoden
Diretor técnico do Detran-RS
O
dia amanheceu e, graças a Deus, com um sentimento de paz
e compromisso cumprido conseguimos olhar para frente, e ver que
o pouco que se fez teve validade.
Me refiro a um tempo não muito distante,
onde uma equipe teve a função de indicar onde seriam
colocados os famosos "Pardais", que estavam dentro dos
objetivos daquela empresa, diminuindo o número de acidentes,
portanto SALVAR VIDAS. Vários locais foram estudados, mas
com certeza o que mais preocupava era a frente da Pontifícia
Universidade Católica de Porto Alegre, devido ao movimento
de alunos e à alta velocidade dos veículos que no
local trafegavam.
Como era novidade, houve muitas criticas e diria
que até a semana passada permaneciam as críticas.
Muitos condutores foram autuados por não respeitarem aquele
local que deveria ser respeitado no consciente das pessoas, mas
a pressa, o desrespeito e imprudência faziam daquele ponto
um dos mais perigosos locais de travessia de Porto Alegre.
O tempo passou e hoje todos que moram em Porto
Alegre e na Região Metropolitana, sabem que naquele local
existe um equipamento medidor de velocidade, bem identificado e,
conforme dados estatísticos, quase ninguém mais é
multado.
Mas não são só os números
que nos interessam e, sim a conscientização dos condutores
a razão de existir o equipamento naquele local.
Para nós que participamos da implantação
e que fomos várias vezes criticados ficou sempre a certeza
de que o que fizemos era algo que não podíamos medir,
até que na semana passada fomos colocados à prova
quando, nós do Detran, resolvemos mostrar que aquele aparelho
era um ANJO da GUARDA e não equipamento faturador como alguns
diziam.
O destino estava nos preparando uma peça,
e quando nossa equipe estava no local tirando fotos onde um menino
chamado Leonardo de seis anos atravessava com seu tio na av. Ipiranga,
com segurança, graças a baixa velocidade do local,
a nossa equipe foi pega de surpresa por uma tentativa de assalto,
não na travessia, porque naquele momento os atores estavam
sobre o canteiro central, e o menino se desgrudou das mãos
do tio e num raciocínio rápido correu em direção
aos seus pais, que estavam no outro lado da rua. O inevitável
aconteceu, numa via de grande circulação o menino
foi atropelado.
Imediatamente todos foram socorrê-lo e nós
que não estávamos no local, ficamos a imaginar o que
realmente tinha acontecido. Telefonemas desesperados foram feitos,
foram acionados todos os órgãos responsáveis
e, durante mais de duas horas o terror bateu em nossas mentes, sempre
pensando no pior. A situação de quem conhece e gosta
de alguém que é atropelado é terrível
e nós que estamos envolvidos com o trânsito nos culpamos
sempre com aquele fatalidade.
Mas o que nós sempre pregamos é
que a fatalidade também é a de termos um planejamento
voltado a prever o acidente e que em última analise também
podemos influenciar nesta fatalidade.
Acho que neste episódio a mão divina
da fatalidade junto com a ação do homem, contribuíram
para que este acidente fosse somente um susto porque, graças
a Deus, foi somente um susto e após todos os exames de rotina,
Leonardo foi liberado, com não mais que escoriações
no rosto.
À noite todos festejavam que o menino estava
bem e inclusive foi possível que ele fosse na sua formatura,
que era naquele noite.
No outro dia mostraram-me a foto da formatura
e, para nossa surpresa lá estava Leonardo sorrindo em uma
peça de teatro com a roupa que era uma sinaleira, e alguns
curativos que lhe lembrariam o milagre ocorrido.
O tempo vai passar, mas acho que nunca vamos esquecer
o que aconteceu e uma pergunta vai sempre ficar no ar: Será
que se existisse um Pardal, ou melhor, será que se as pessoas
não estivessem conscientes de que naquele local existe um
Pardal, o Leonardo poderia ir à sua formatura?
Na dúvida acredito que tudo que podemos fazer, mesmo que
muitos não entendam, devemos fazer, porque se o nosso esforço
salvar apenas uma vida, já terá valido a pena...
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